terça-feira, 15 de novembro de 2011

Noite de Estrelas

Hoje é noite de estrelas e ainda não dormi. As eternas estrelas companheiras que mesmo com o céu nublado furam o bloqueio terrestre. Lançam um olhar à terra, à procura de alguém que as fite com a mesma intensidade. Pura ilusão. Impossível calcular a grandeza dessa obra. Por sorte, apenas contemplar o quanto é belo e extraordinário.

Antes disso, a caminho de casa, um pouco de nostalgia. Não estava triste, estava só. Uma saudade doída, rememorada pela visão de um dos amigos de infância. Queria saber o porquê de tantos desencontros, tantas amarguras. Os amigos, deixados de lado, por um enlace, uma troca de alianças. Os poucos amigos, amigos verdadeiros de todo dia, acabaram, assim como acaba o dia.

Há algum tempo era fácil os encontrar, quando todos se reuniam em casa, ou bares, antes de sair para a 'festa'. Gostosa juventude! Entradas falsas nas discotecas e danceterias e, todo mundo se divertia. Era alegre o jeito com que cada um se tratava, apesar dos muitos problemas. Quantos e quantos carimbos, bilhetes falsos não foram confeccionados! Inúmeros, perdido a conta. Na última noite, 64. Os seguranças das casas noturnas pegaram ao braço e apertaram, a frase firme: - temos que ter uma palavrinha contigo. Nervosismo! os bolsos lotados de apetrechos para a falsificação. Alguém delatou. A velha brincadeira: 'cela quatro pra ti'. Suor frio, mas consegui contornar a situação; nada demais aconteceu, só a dissolução da turma que nunca mais foi reunida, nunca mais.

Hoje ainda é possível encontrar algum deles por aí. Os bairros ainda são os mesmos, mas as discotecas não existem mais. E quando se encontra um, parece que o tempo passou em vão, passou por passar, como se não tivesse outra coisa pra se ocupar. Eles ainda sorriem das mais fúteis conversas, dão gargalhadas porque estão felizes ou por já estarem ébrios, dissolvidos em um assunto que poderia passar várias madrugadas, num toque de violão. Quanta coisa gostosa ficou daquele tempo.

Tempo em que tudo era fácil. Em que se acreditava somente no presente, sem a função estática dos tempos modernos. Tinha-se a nítida perseverança de que nada iria mudar, e, mudou. Só restaram as mágoas contidas em cada pensamento, em cada olhar. Tempo de 'loucura', pulando janelas, puxando cortinas e deitando-se ao assoalho, para a descoberta do prazer.

Hoje, o copo de conhaque à mão, herança das várias e longas madrugadas à frente do computador, com um termômetro quase negativo, digitando textos intermináveis, montando fotos, organizando matérias. Impressoras à laser, impressoras off-set. Quanto trabalho! Quatro horas depois, os jornais nas bancas. Oito horas mais tarde, servindo de tapetes para automóveis ou sendo enrolados em peixes. Estava concluído todo o ciclo vital do papel impresso.

Sair à rua hoje, somente para ver as estrelas, que continuam lá. Não mudaram ainda. Parece que elas fazem sintonia à minha calma e ao silêncio desta noite.

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